Filhas do Pai Celestial
Susan W. Tanner
Ex Presidente Geral das Moças
O Pai Celestial as conhece e as ama. Vocês são Suas filhas especiais. Ele tem um plano para vocês.
Nosso
genro disse à filha Eliza, de três anos, que eles teriam na reunião
familiar uma lição sobre um tema muito especial. Ela abriu um grande
sorriso e tentou adivinhar qual seria a surpresa. “Deve ser a meu
respeito”, disse ela, “porque sou muito especial!” Eliza lembra e sabe
quem ela é: uma filha muito especial de Deus. Aprendeu isso com a mãe,
pois desde bebezinho a ouvia cantar todas as noites nosso hino de
abertura, “Sou um Filho de Deus”, (Hinos, nº 193) como canção de ninar.
Em
todo o mundo e em quase todos os idiomas, as moças de 12 a 17 anos
declaram a mesma coisa: “Somos filhas de nosso Pai Celestial que nos
ama, e nós O amamos” (Tema das Moças, Progresso Pessoal das Moças (folheto,
2002, p. 5). Mas à medida que crescem, muitas vezes elas perdem a
confiança no fato de que são muito especiais, algo que Eliza, de apenas
três anos, sabe muito bem. Os jovens freqüentemente passam por uma
“crise de identidade” e se perguntam quem realmente são. A adolescência
também é uma época da vida que chamo de “ladra de identidade”, em que as
idéias, filosofias e falsidades do mundo nos confundem, atormentam e
procuram roubar-nos o conhecimento de nossa verdadeira identidade.
Uma
jovem exemplar me disse: “Às vezes não tenho certeza de quem sou. Não
sinto o amor do Pai Celestial. Minha vida parece difícil. As coisas não
estão saindo do jeito que eu queria, esperava e sonhava”. Quero agora
dizer a todas as jovens do mundo o mesmo que disse a ela: sei sem dúvida
alguma que você é filha de Deus. Ele a conhece, a ama e tem um plano
para você. Sei que essa é a mensagem que o Pai Celestial deseja que eu
lhes transmita.
Os
profetas e apóstolos modernos testificam nossa natureza divina. A
proclamação ao mundo sobre a família, declara: “Cada [um de nós] é um
filho (ou filha) gerado em espírito por pais celestiais que o amam e,
como tal, possui natureza e destino divinos” (A Liahona, outubro de 2004, p. 49). O Presidente Gordon B. Hinckley disse também:
“Vocês são incomparáveis. São filhas de Deus.
Têm
por direito de nascença algo belo, sagrado e divino. Nunca se esqueçam
disso. Seu Pai Eterno é o grande Mestre do universo. Ele governa todas
as coisas, mas também ouve as orações que cada uma faz como Sua filha e
as escuta quando falam com Ele. Ele responderá suas orações. Ele não as
deixará sozinhas” (“Permaneçam no Caminho Elevado”, A Liahona, maio de 2004, pp. 112–115).
À
medida que vocês permitirem que o conhecimento de que são filhas de
Deus penetre profundamente em sua alma, isso as confortará, fortalecerá a
sua fé e influenciará sua conduta. Se deixarem que essa verdade
virtuosa adorne seus pensamentos incessantemente, vocês terão confiança
em Deus, como promete a escritura do tema da Mutual (ver D&C
121:45).
Como
podemos saber e sentir que somos filhas do Pai Celestial? Há um véu
entre o céu e a Terra, um “sono e um esquecimento” (William Wordsworth,
“Ode: Intimations of Immortality from Recollections of Early Childhood,
estrofe 5, linha 58), quando nascemos. Isso é necessário para
adquirirmos “experiência terrena a fim de progredir rumo à perfeição,
terminando por alcançar [nosso] destino divino como herdeiros da vida
eterna” (A Liahona, outubro de 2004, p. 49). O Pai Celestial nos
ama e deseja ajudar-nos a lembrar-nos Dele, por isso nos proporciona
vislumbres da eternidade. O Apóstolo Paulo ensinou: “O mesmo Espírito
testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Romanos 8:16).
O Espírito concede-nos vislumbres de quem somos. Freqüentemente o
Espírito fala conosco quando oramos, lemos as escrituras, refletimos
sobre a misericórdia do Senhor conosco, quando recebemos as bênçãos do
sacerdócio, servimos ao próximo ou sentimos o amor e apoio de outras
pessoas.
Moisés
compreendeu quem era por meio de uma grandiosa experiência espiritual:
conversou com Deus face a face e soube que Ele era o Filho de Deus, com
uma missão especial a cumprir. Depois dessa experiência espiritual,
Moisés foi atormentado por Satanás, mas como havia experimentado a
glória de Deus, percebeu que Satanás não tinha glória alguma. Como
Moisés sabia que era filho de Deus e que Deus tinha uma missão para ele,
teve forças e conseguiu resistir a Satanás, fazer um julgamento justo,
invocar a Deus pedindo forças e continuar a ter consigo o Espírito de
Deus (ver Moisés 1).
O
mesmo padrão se aplica a nós. Quando sabemos e sentimos quem realmente
somos, tornamo-nos capazes de reconhecer a diferença entre o bem e o mal
e adquirimos forças para resistir à tentação. Uma das maneiras pelas
quais podemos saber qual é a missão divina que Deus tem para nós é por
meio de nossa bênção patriarcal. Ela é uma mensagem muito específica e
individual que cada um pode receber pelo poder do sacerdócio.
Outra
maneira de recebermos compreensão espiritual de nossa própria natureza
eterna é por meio de um pai ou um líder que pode renovar nossa confiança
graças a seus vislumbres inspirados de quem realmente somos. O Espírito
já me sussurrou de modo bem específico traços da verdadeira identidade
de meus filhos. Lembro-me que na noite anterior ao nascimento de um de
meus filhos, tive a nítida impressão de que aquele bebê seria um grande
amigo que ajudaria a cada um de seus irmãos, o que se provou ser a pura
verdade. Em outra ocasião, quando um de nossos filhos adolescentes
estava muito deprimido por causa de seu envolvimento em um acidente
automobilístico, ouvi nitidamente estas palavras em minha mente: “Amo
esse filho e o conduzirei na vida”, e foi o que aconteceu. Tive esses
vislumbres muitas e muitas vezes. Quando eles precisaram de incentivo,
fui abençoada com vislumbres do grande e nobre espírito de meus filhos.
Sua
mãe ou seu pai alguma vez já lhes disse, quando vocês estavam saindo de
casa: “Lembre-se de quem você é”? O que eles queriam dizer com isso?
“Lembre-se de que você faz parte desta família e tem uma reputação a
zelar”. E, ainda mais importante, “lembre-se de que você é filha de Deus
e precisa agir de modo condizente”. Os missionários usam uma plaqueta
como constante lembrete de que são representantes de A Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Ela lembra aos missionários que
devem vestir-se de modo recatado e asseado. Tratar as pessoas com
educação e esforçar-se para ter a imagem de Cristo em seu semblante.
Precisam fazer essas coisas porque usam essa plaqueta de identificação
como um sinal externo da sua identidade. Por convênio, todos também
tomamos sobre nós o nome de Cristo. Seu nome deveria estar gravado em
nosso coração. Da mesma forma, espera-se que ajamos como filhas dignas
do Pai Celestial, que nos enviou à Terra com esta admoestação, ao menos
figurativamente: “Lembrem-se de quem vocês
são!”
Quando
fui chamada para trabalhar com as moças desta Igreja, eu sabia que
teria de agir de modo condizente. Certo dia, uma de minhas filhas
recebeu uma multa por estacionar na rua com a documentação do carro
vencida. Decidi resolver eu mesma o problema e fui até o prédio da
prefeitura para explicar que estávamos aguardando a chegada da nova
documentação pelo correio. Quando entrei resolutamente no prédio, alguém
me disse: “Sei quem é você”. Isso me fez parar e pensar que eu também
precisava lembrar-me de quem era: não era apenas a presidente geral das
Moças, mas principalmente filha de Deus.
No
relacionamento com os outros, precisamos lembrar que as outras pessoas
também são filhas de nosso Pai Celestial. A princípio, em nosso
casamento, meu marido sempre me dizia: “Não me casei com você por sua
beleza”. Por fim, brinquei com ele dizendo que isso não era muito
lisonjeiro. Ele explicou o que eu já sabia, que aquele era o maior
elogio que ele poderia fazer-me. Ele disse: “Amo você por quem você é
interiormente e eternamente”. O Senhor disse: “Não atentes para a sua
aparência, nem para a grandeza da sua estatura, (…) porque o Senhor não
vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o
Senhor olha para o coração” (I Samuel 16:7). Na família, nas amizades,
no namoro e no casamento não devemos valorizar apenas a beleza ou o
currículo, mas, sim, o caráter, os bons princípios e a natureza divina
que cada pessoa herdou.
Em
uma estaca do Chile, as moças fizeram isso num acampamento anotando em
um caderno as virtudes umas das outras. Todos os dias conheciam-se
melhor e anotavam as boas qualidade intrínsecas que descobriam em cada
pessoa. No final do acampamento, falaram do que perceberam e ajudaram
cada pessoa a ver um pouco mais da natureza divina que cada uma traz
dentro de si. A líder delas disse: “Estamos literalmente envoltas nesse
maravilhoso espírito de bondade e boa vontade. Posso sinceramente dizer
que não ouvi uma única reclamação das moças! Elas estão desabrochando
num doce espírito de aceitação mútua que geralmente não existe entre as
adolescentes. Não havia competição nem contendas. Nosso acampamento
tornou-se um pedacinho do céu” (correspondência pessoal). As moças
reconheceram e reafirmaram a natureza divina de cada uma, e o Espírito
tomou o acampamento quando esses pensamentos virtuosos foram expressos.
C.
S. Lewis disse sabiamente: “É uma coisa muito séria viver em uma
sociedade de deuses e deusas em potencial, e lembrar que até a pessoa
mais sem graça e maçante com quem converso pode um dia vir a ser uma
criatura que, se eu a visse agora, ficaria fortemente tentado a adorar.
(…) Não há pessoas comuns (…). Seu próximo é a coisa mais sagrada com que já se deparou” (C. S. Lewis, “The Weight of Glory”, Screwtape Proposes a Toast and Other Pieces, pp. 109–110).
As
jovens do mundo todo, que sabem que tanto elas como as outras são
filhas de um Pai Celestial amoroso, demonstram seu amor a Ele por meio
de uma vida virtuosa, dedicada ao serviço, exemplar. Fiquei
impressionada com as moças que se vestiam com recato numa região muito
quente e úmida do Brasil. Elas disseram: “O recato não tem a ver com o
clima. Tem a ver com o coração”. Essas moças sabiam que eram filhas de
Deus.
Fiquei
emocionada ao saber da história de cinco jovens estudantes SUD de Idaho
que se afogaram recentemente num terrível acidente. Eles eram
conhecidos pelos amigos e pela comunidade por viverem padrões de retidão
e serem um exemplo admirável de virtude e integridade. Aqueles jovens
sabiam que eram filhos e filhas de Deus.
Senti-me
reconfortada com o exemplo de outra moça cujos pais se divorciaram. Ela
queria que seu irmão e suas irmãs mais novos se sentissem amados, por
isso ora com eles todas as noites e diz a eles que os ama. Essa moça
sabe que é filha de um Pai Celestial que a ama, e demonstra seu amor a
Ele amando seus irmãos.
Fiquei
comovida ao saber o que algumas moças fizeram em uma região pobre e
politicamente oprimida. A despeito das próprias dificuldades, essas
moças se reuniram em um acampamento e planejaram maneiras de edificar o
próximo. Fizeram pacotes de material de higiene para mulheres
necessitadas. Prestaram serviço à comunidade, em hospitais e nas casas
das pessoas. Sabemos pelas ações daquelas moças que elas compreendem sua
identidade de filhas de Deus. Meu coração fica repleto de amor por elas
e pelas moças ao redor do mundo. Sei que vocês são filhas de Deus e que
Ele as ama.
Para
concluir, gostaria de contar uma experiência muito terna e sagrada para
mim. Quando fui chamada para servir como presidente geral das Moças,
fiquei apavorada e senti-me muito incapaz. Passei muitas noites em claro
preocupada, arrependendo-me e chorando. Depois de várias noites assim,
tive uma experiência muito marcante. Comecei a pensar em minhas jovens
sobrinhas, depois nas moças da vizinhança e da minha ala, depois nas
moças que eu via sempre na escola, e então visualizei as moças da Igreja
no mundo inteiro, mais de meio milhão delas. Uma sensação cálida
maravilhosa começou a me envolver. Senti imenso amor pelas moças da
Igreja em toda parte, a cada uma de vocês, e soube que estava sentindo o
amor do Pai Celestial por vocês. Foi uma experiência vigorosa e
envolvente. Pela primeira vez, senti paz, porque compreendi o que o Pai
Celestial queria que eu fizesse: Ele queria que eu testificasse a cada
uma o grande amor que Ele tem por vocês. Portanto, testifico novamente a
vocês que sei, sem nenhuma dúvida,
que o Pai Celestial as conhece e as ama. Vocês são Suas filhas
especiais. Ele tem um plano para cada uma e estará sempre presente para
guiá-las e andar a seu lado (ver “Sou um Filho de Deus”). Oro
sinceramente para que saibam e sintam essas coisas, em nome de Jesus
Cristo. Amém.
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