Ouse Ficar Sozinho
Thomas S. Monson
Que sempre sejamos corajosos e estejamos preparados para defender nossa crença.
Meus
amados irmãos, é um imenso privilégio estar com vocês nesta noite. Nós,
que possuímos o sacerdócio de Deus, formamos uma grande união e
irmandade.
Lemos
em Doutrina e Convênios, seção 121, versículo 36, “que os direitos do
sacerdócio são inseparavelmente ligados com os poderes do céu”. Que
dádiva maravilhosa nos foi concedida — a de possuir o sacerdócio, que
está “inseparavelmente ligado com os poderes do céu”. Essa dádiva
preciosa, porém, traz consigo não apenas bênçãos especiais, mas também
solenes responsabilidades. Precisamos conduzir nossa vida de modo que
sejamos dignos do sacerdócio que possuímos. Vivemos numa época em que
estamos cercados por muitas coisas que querem induzir-nos a caminhos que
podem levar-nos à destruição. É preciso determinação e coragem para
evitar esses caminhos.
Relembro
uma época — e alguns de vocês aqui também devem lembrar — em que os
padrões da maioria das pessoas eram bem semelhantes aos nossos. Isso já
não ocorre mais. Li recentemente um artigo no jornal New York Times
a respeito de um estudo realizado no verão de 2008. Um renomado
sociólogo da Universidade Notre Dame liderou uma equipe de pesquisas na
realização de entrevistas com 230 jovens adultos de vários lugares dos
Estados Unidos. Creio que podemos presumir com segurança que os
resultados seriam semelhantes na maior parte do mundo.
Compartilho com vocês apenas um trecho desse impactante artigo:
“Os entrevistadores fizeram perguntas abertas sobre o certo e o errado,
sobre dilemas morais e sobre o significado da vida. Em suas respostas
desconexas (…) vemos que os jovens têm muita dificuldade para dizer
qualquer coisa sensata em relação a esses assuntos. Eles simplesmente
não têm a compreensão ou o vocabulário para fazê-lo.
Quando lhes foi pedido que descrevessem um dilema moral que
enfrentavam, dois terços dos jovens ou não conseguiram responder à
pergunta ou descreveram problemas que nada tinham a ver com a moral,
como: não conseguir pagar o aluguel de um apartamento ou não ter moedas
suficientes para colocar no parquímetro”.
O artigo continua:
“A atitude comum, a que a maioria recorreu repetidas vezes, é a de que
as escolhas morais são apenas uma questão de gosto pessoal. ‘É uma coisa
pessoal’, era sua resposta típica. ‘Depende da pessoa. Quem sou eu para
dizer?’
Rejeitando a obediência cega à autoridade, muitos jovens chegaram ao
extremo de [dizer]: ‘Eu faria o que achasse que me deixaria feliz ou o
que sentisse que devia. Não tenho outro modo de saber o que fazer a não
ser o modo como me sinto por dentro’”.
Os
entrevistadores salientaram que a maioria dos jovens com quem
conversaram “não tinha recebido os recursos — das escolas, das
instituições ou da família — para cultivar sua intuição moral”.1
Irmãos,
ninguém ao alcance de minha voz deve ter qualquer dúvida em relação ao
que é moral e ao que não é; tampouco deve haver dúvidas sobre o que é
esperado de nós como portadores do sacerdócio de Deus. Nós recebemos e
continuamos a receber as leis de Deus. A despeito do que possamos ver ou
ouvir em outros lugares, essas leis não mudaram.
Em
nossa vida cotidiana, é quase inevitável que nossa fé seja questionada.
Podemos, às vezes, estar cercados de pessoas e, ainda assim, ser a
minoria ou até ficar sozinhos em relação ao que é aceitável e o que não
é. Será que temos coragem moral para defender firmemente nossas crenças,
mesmo que para isso tenhamos de ficar sozinhos? Como portadores do
sacerdócio de Deus, é essencial que possamos enfrentar — com coragem —
quaisquer desafios com que nos deparemos. Lembrem-se das palavras do
poeta Tennyson: “Minha força é como a força de dez, porque meu coração é
puro”.2
Cada
vez mais, vemos certas celebridades e outras pessoas — que por um
motivo ou outro, estão à vista do público — ridicularizarem a religião
em geral e, às vezes, a Igreja, de modo específico. Se nosso testemunho
não estiver firmemente alicerçado, essas críticas podem fazer com que
duvidemos de nossas próprias crenças ou hesitemos em nossa determinação.
Na visão que Leí teve da árvore da vida, que se encontra em 1 Néfi 8,
ele viu, entre outras coisas, pessoas que se agarravam à barra de ferro
até chegarem e partilharem do fruto da árvore da vida, que sabemos ser
uma representação do amor de Deus. E então, infelizmente, depois de
partilharem do fruto, alguns ficavam envergonhados por causa das pessoas
que estavam no “grande e espaçoso edifício”, que representa o orgulho
dos filhos dos homens, e que apontavam o dedo para eles e zombavam
deles; e assim eles seguiram por caminhos proibidos e se perderam.3
Que ferramentas poderosas do adversário são o ridículo e a zombaria!
Repito, irmãos: será que temos coragem de permanecer fortes e firmes
diante dessa difícil oposição?
Creio
que a primeira vez que tive coragem para defender minhas convicções foi
quando servi na Marinha dos Estados Unidos, no final da Segunda Guerra
Mundial.
A
base de treinamento de recrutas da Marinha não foi nada fácil para mim,
nem para ninguém que teve de passar por isso. Nas primeiras semanas,
fiquei convencido de que minha vida estava em perigo. A Marinha não
estava tentando treinar-me — estava tentando matar-me.
Sempre
me lembrarei de quando chegou o domingo, depois da primeira semana.
Recebemos boas notícias do suboficial chefe. Em posição de sentido, no
campo de treinamento, enfrentando a forte brisa da Califórnia, ouvimos
sua ordem: “Hoje, todo mundo vai para a igreja — quer dizer, todos menos
eu. Eu vou relaxar!” Depois, ele bradou: “Todos vocês, católicos,
reúnam-se no campo Decatur — e não voltem até as três da tarde. Em
frente, marchem!” Um contingente significativo se moveu. Depois, ele
berrou sua ordem seguinte: “Os que são judeus, reúnam-se no campo Henry —
e não voltem até as três da tarde. Em frente, marchem!” Um contingente
um pouco menor saiu marchando. Depois, ele disse: “O restante de vocês,
protestantes, reúnam-se nos anfiteatros do campo Farragut — e não voltem
até as três da tarde. Em frente, marchem!”
Imediatamente
um pensamento irrompeu em minha mente: “Monson, você não é católico,
não é judeu, não é protestante. Você é mórmon, portanto fique parado
onde está!” Posso assegurar-lhes que me senti completamente sozinho.
Corajoso e determinado, sim — mas sozinho.
Então,
ouvi as palavras mais agradáveis que aquele suboficial jamais proferiu.
Ele olhou em minha direção e perguntou: “E o que vocês, rapazes, se
consideram?” Até aquele momento, eu não tinha me dado conta de que
houvesse alguém de pé ao meu lado ou atrás de mim no campo de
treinamento. Quase em uníssono, cada um de nós respondeu: “Mórmons!” É
difícil descrever a alegria que me encheu o coração ao virar-me e ver um
grupo de outros marinheiros.
O
suboficial coçou a cabeça com uma expressão desconcertada, mas por fim
disse: “Bem, vão procurar algum lugar para se reunirem. E não voltem até
as três da tarde. Em frente, marchem!”
Quando saímos marchando, pensei nas palavras de um versinho que havia aprendido na Primária, muitos anos antes:
Ouse ser mórmon,
Ouse ficar sozinho.
Ouse ter um firme propósito,
Ouse torná-lo conhecido.
Embora as coisas tivessem saído diferentes do que eu esperava, eu estaria disposto a ter ficado sozinho, se fosse necessário.
Desde aquele dia, houve ocasiões em que não havia ninguém em pé atrás de mim e, portanto, fiquei realmente
sozinho. Quão grato sou por ter tomado bem antes a decisão de
permanecer forte e fiel, estando sempre preparado e pronto para defender
minha religião, caso surgisse a necessidade.
Para
que nunca nos sintamos inadequados para as tarefas que teremos pela
frente, irmãos, gostaria de compartilhar com vocês uma declaração feita
em 1987, pelo então Presidente da Igreja, Ezra Taft Benson, dirigindo-se
a um grande grupo de membros na Califórnia. O Presidente Benson disse:
“Em
todas as eras, os profetas contemplaram, ao longo dos corredores dos
tempos, os nossos dias. Bilhões de falecidos e daqueles que ainda estão
por nascer têm seus olhos sobre nós. Não se enganem a esse respeito —
vocês são uma geração marcada. (…)
Por
quase seis mil anos, Deus os reservou para que surgissem nos últimos
dias antes da Segunda Vinda do Senhor. Algumas pessoas vão cair, mas o
reino de Deus permanecerá intocado para receber de volta o seu líder,
sim, Jesus Cristo.
Embora
esta geração seja comparável em iniquidade aos dias de Noé, quando o
Senhor limpou a Terra com o dilúvio, há uma diferença importante desta
vez. A diferença é que Deus reservou para a disputa final alguns de Seus
filhos mais fortes, que ajudarão a fazer com que o reino triunfe”. 4
Sim,
irmãos, representamos alguns de Seus filhos mais fortes. Temos a
responsabilidade de ser dignos de todas as bênçãos gloriosas que o Pai
Celestial reservou para nós. Onde quer que estejamos, nosso sacerdócio
estará conosco. Será que permanecemos em lugares santos? Por favor,
antes de colocarem vocês mesmos e seu sacerdócio em risco,
aventurando-se a ir a certos lugares ou a participar de certas
atividades que não são dignas de vocês ou desse sacerdócio, ponderem
cuidadosamente as consequências. A todos nós foi conferido o Sacerdócio
Aarônico. Nesse processo, cada um de nós recebeu o poder que possui as
chaves da ministração de anjos.
O Presidente Gordon B. Hinckley disse:
“Vocês não podem dar-se ao luxo de fazer qualquer coisa que venha a
interpor-se entre vocês e os anjos ministradores a sua volta.
Vocês não podem ser imorais de maneira alguma. Não podem ser
desonestos. Não podem trapacear, mentir, tomar o nome de Deus em vão nem
usar linguajar impuro e ainda ter direito ao ministério de anjos”.5
Se
tiverem tropeçado em sua jornada, quero que compreendam, sem nenhuma
dúvida, que existe um caminho de volta. O processo se chama
arrependimento. Nosso Salvador deu Sua vida para conceder-nos essa
dádiva abençoada. Apesar de o caminho do arrependimento não ser fácil,
as promessas são reais. Foi-nos dito: “Ainda que os vossos pecados sejam
como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve”.6 “E nunca mais me lembrarei [deles]”.7 Que declaração! Que grande bênção! Que promessa!
Pode
haver entre vocês alguns que pensam consigo mesmos: “Bem, não estou
vivendo todos os mandamentos e não faço tudo o que devia, mas estou-me
dando relativamente bem na vida. Acho que posso continuar a viver no
mundo e na Igreja”. Irmãos, garanto-lhes que isso não vai funcionar a
longo prazo.
Há
poucos meses, recebi uma carta de um homem que achava que poderia
desfrutar das duas coisas. Ele hoje está arrependido e colocou sua vida
em harmonia com os princípios e mandamentos do evangelho. Quero
compartilhar com vocês um parágrafo de sua carta, porque retrata a
realidade de um modo de pensar equivocado: “Tive de aprender por mim
mesmo (do modo mais difícil) que o Salvador estava absolutamente certo,
quando disse: ‘Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de
odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não
podeis servir a Deus e a Mamom.’8
Tentei, o máximo que alguém já tentou, fazer as duas coisas. No final,
senti todo o vazio, toda a escuridão e toda a solidão que Satanás faz
cair sobre os que acreditam em suas falsidades, ilusões e mentiras”.
Para
que sejamos fortes e suportemos todas as forças que nos empurram na
direção errada ou todas as vozes que nos encorajam a tomar o caminho
errado, precisamos ter nosso próprio testemunho. Quer tenham 12 ou 112
anos — ou qualquer idade intermediária — vocês podem saber por si mesmos
que o evangelho de Jesus Cristo é verdadeiro. Leiam o Livro de Mórmon.
Ponderem seus ensinamentos. Perguntem ao Pai Celestial se esse livro é
verdadeiro. Temos a promessa de que, “se perguntardes com um coração
sincero e com real intenção, tendo fé em Cristo, ele vos manifestará a
verdade delas pelo poder do Espírito Santo”.9
Se
soubermos que o Livro de Mórmon é verdadeiro, então, com certeza Joseph
Smith foi realmente um profeta e viu Deus, o Pai Eterno, e Seu Filho,
Jesus Cristo. Também podemos concluir que o evangelho foi restaurado
nestes últimos dias por intermédio de Joseph Smith — inclusive a
restauração do Sacerdócio Aarônico e do de Melquisedeque.
Depois
de obter um testemunho, temos o encargo de compartilhar esse testemunho
com outras pessoas. Muitos de vocês, irmãos, serviram como missionários
no mundo inteiro. Muitos de vocês, rapazes, ainda vão servir.
Preparem-se agora para essa oportunidade. Certifiquem-se de estar dignos
para servir.
Se
estivermos preparados para compartilhar o evangelho, estaremos prontos
para atender ao conselho do Apóstolo Pedro, que nos exortou: “Estai
sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos
pedir a razão da esperança que há em vós”.10
Ao
longo de toda a vida, teremos oportunidades de compartilhar nossas
crenças, embora nem sempre saibamos quando seremos conclamados a
fazê-lo. Tive essa oportunidade em 1957, quando trabalhava na indústria
gráfica e recebi a incumbência de ir a Dallas, Texas, que às vezes é
chamada de “a cidade das igrejas”, para falar em uma convenção desses
profissionais. Depois do término da convenção, peguei um ônibus de
turismo para fazer um passeio pelos subúrbios da cidade. Ao passarmos
pelas diversas igrejas, nosso motorista comentava: “À esquerda, vocês
podem ver a igreja metodista”, ou “Ali, à direita, está a catedral
católica”.
Ao
passarmos por um belo edifício de tijolos vermelhos, em cima de uma
colina, o motorista exclamou: “Aquele edifício é onde os mórmons se
reúnem”. Uma senhora, nos fundos do ônibus, pediu: “Motorista, será que
você poderia dizer-nos algo mais sobre os mórmons?”
O
motorista parou o ônibus junto à calçada, virou-se no banco e
respondeu: “Senhora, tudo o que sei a respeito dos mórmons é que eles se
reúnem naquele edifício de tijolos vermelhos. Há alguém no ônibus que
saiba algo mais sobre os mórmons?”
Esperei
que alguém respondesse. Olhei para a expressão que cada pessoa tinha no
rosto, procurando algum sinal de reconhecimento, algum desejo de fazer
um comentário. Nada. Dei-me conta de que a mim cabia fazer o que o
Apóstolo Pedro tinha sugerido: “Estai sempre preparados para responder
(…) a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós”. Também
me dei conta da veracidade do ditado: “Quando chega o momento da
decisão, o tempo de preparação já passou”.
Nos
quinze minutos ou mais que se seguiram, tive o privilégio de
compartilhar com as pessoas que estavam no ônibus o meu testemunho
acerca da Igreja e de nossas crenças. Fiquei grato por meu testemunho e
por estar preparado para compartilhá-lo.
De
todo coração e alma, oro para que todo homem que possui o sacerdócio
honre esse sacerdócio e seja leal à confiança transmitida quando ele lhe
foi conferido. Que cada um de nós, que possuímos o sacerdócio de Deus,
saiba em que acredita. Que sempre sejamos corajosos e estejamos
preparados para defender nossa crença. E, se for preciso ficar sozinho
nesse processo, que o façamos com coragem, fortalecidos pelo
conhecimento de que, na realidade, nunca estamos sozinhos quando nos
colocamos ao lado de nosso Pai Celestial.
Ao
contemplar a grande dádiva que nos foi concedida (“os direitos do
sacerdócio são inseparavelmente ligados com os poderes do céu”), que
nossa determinação seja a de sempre guardar e sempre proteger essa
dádiva, e de sermos dignos de suas grandes promessas. Irmãos, sigamos as
instruções do Salvador para nós, que se encontram no livro de 3 Néfi:
“Levantai vossa luz para que brilhe perante o mundo. Eis que eu sou a
luz que levantareis — aquilo que me vistes fazer”.11
Que
sempre sigamos essa luz e a levantemos para que o mundo inteiro a veja.
É minha oração e minha bênção sobre todos os que ouvem a minha voz. Em
nome de Jesus Cristo. Amém.
Nenhum comentário:
Postar um comentário